In Memoriam "Adriano Moreira e os Estudos Asiáticos"

 

Com o desaparecimento físico de Adriano Moreira, e apesar de tantas e tão variadas intervenções e testemunhos sobre as suas múltiplas facetas, o Instituto do Oriente (IO) gostaria de assinalar aquele que foi o seu contributo para a génese e desenvolvimento dos Estudos Asiáticos em Portugal. Com efeito, desde a década de 50 do século XX, em pleno contexto da descolonização, que o ‘Oriente’ lhe mereceu toda a atenção no âmbito do Centro de Estudos Políticos e Sociais da Junta das Investigações do Ultramar (JIU), fundado em 1956, para ‘o estudo das doutrinas e das orientações estrangeiras ou internacionais que visem territórios ultramarinos ou neles possam ter projeção’, em colaboração com o Instituto Superior de Estudos Ultramarinos e depois com o Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, designações anteriores do atual ISCSP. Pela sua mão surgiram, entretanto, outros centros e grupos de estudos na área das Relações Internacionais. Tal foi o caso, entre outros do Grupo de Estudos Eslavos e Sínicos.

O referido Centro de Estudos Políticos e Sociais da JIU publicou logo em 1957 a obra do futuro Ministro dos Negócios Estrangeiros, Alberto Franco Nogueira com a sua impressionante Luta pelo Oriente (1957). Alguns anos mais tarde, Políbio Valente de Almeida dissertava sobre a presença da China em África, com os seus Fundamentos de uma política de subversão africana (1966). Os ‘Cursos de Extensão Universitária’ organizados no ISCSPU para as então províncias ultramarinas e Brasil acolheram o ângulo internacionalista e incluíram um sobre o Oriente no ano letivo 1966-67.

Foi neste mesmo registo - da atenção que a região lhe havia merecido e com a prioridade nas áreas das Relações Internacionais, Estratégia, Geopolítica e Antropologia – que no seu ISCSP haveria de ser criado, em 1989, o IO. Graças ao dinamismo do seu amigo e discípulo, Narana Coissoró, o IO veio desempenhar importante papel na tímida área dos Estudos Asiáticos, beneficiando do apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), para o desenvolvimento de projetos de investigação ligados à questão de Macau e à China e posteriormente a Timor, no momento em que o estatuto jurídico daqueles territórios estavam em mudança, no final do século XX. A par destes projetos, o IO organizou várias conferências internacionais de grande nível, convidando os mais prestigiados nomes dos Estudos Asiáticos, tendo marcado o panorama editorial português da área com a publicação regular da Daxiyangguo, Revista Portuguesa de Estudos Asiáticos a partir de 2002.

A história do IO está assim, indelevelmente ligada, desde a sua fundação ao saber e entusiasmo do Professor Adriano Moreira e à sua estreita colaboração com o pai-fundador Narana Coissoró.

 

Nuno Canas Mendes

Presidente do Instituto do Oriente